Angelo Venosa / sem começo nem fim
A obra de Angelo Venosa suscita uma variedade de significados e reside em um mundo fluido, permeado pela tecnologia digital, que faz parte de sua lógica de trabalho. Esta mostra, na Simões de Assis Galeria de Arte, em Curitiba, cria um novo espaço para a sua arte transitar, ampliando o campo da sua poética.
Com vasta experiência vinda de trabalhos artesanais, Venosa abre novos horizontes de investigação e de pesquisas estéticas, agora sintonizado com novas tecnologias, o que confere consistência necessária para suas infinitas possibilidades combinatórias. Convoca um saber científico ao utilizar a dinâmica e a caligrafia do mundo contemporâneo com novas tecnologias e intensifica o jogo de ambiguidades visuais ao trabalhar com impressões em 3D, criando uma interface entre a tecnologia e a artesania.
Volumétricas e irregulares, as esculturas recentes de Venosa contam com um espaço cumulativo. As superfícies, quase ofegantes, parecem conter uma musculatura própria para os seus movimentos de contração e reordenação.
As voluminosidades sinuosas e sobrepostas comprimem o espaço, parecem desabrochar em uma condição poliglota, habitar várias línguas que, em algumas circunstâncias, avizinham-se ou distanciam-se. Ativam uma emissão poética, formam unidades intensas, ondejantes com seu movimento onduloso e, na sua radiosa brancura, potencializam uma luminosidade muito especial.
Na obra de Angelo Venosa, a superposição de camadas, a complexidade dos planos e a continuidade dos volumes curvos aliadas a uma instável alteração luminosa vão gerar uma enervação perceptiva.
Angelo Venosa é considerado um dos principais expoentes do cenário cultural contemporâneo. Cultiva as ambiguidades perceptivas, as zonas instáveis onde nada ali está inerte, são constelações de um todo que guardam infinitos enigmas. Inquietas e interrogativas, suas obras pressupõem uma resistência do ser ao mundo real, problematizam a visão do espectador. Esse campo ativo, sempre em expansão, confronta-nos, propõe dilemas, nada parece estar domesticado. São superfícies em permanente pulsação, desarmam a inércia do nosso cotidiano. Venosa imprime suas marcas no mundo e nos dá a oportunidade de acompanhá-lo nas suas experiências e aventuras criativas que guardam infinitos enigmas.
Vanda Klabin*
Junho de 2017
*Cientista social, historiadora e curadora de arte. Nasceu, vive e trabalha no Rio de Janeiro.