“As cores são atos e paixões da luz. Neste sentido, podemos esperar delas alguma indicação sobre a luz”

J. W. Goethe

 

A tônica do trabalho de Carlos Cruz-Diez é o jogo do olhar, a feitura de uma nova gramática que elabora a cor como situação, um evento no espaço/tempo. A plasticidade e a percepção operam as condições efêmeras da conversão de luz em impulsos elétricos que o cérebro interpreta como visão. A articulação de mecanismos que permitiram materializar a reflexão sobre a cor foi realizada de maneira profícua e incomparável pelo artista venezuelano, fundamentado na eficácia da comprovação.

Em 1955, em sua primeira visita à França — país no qual viria a se radicar posteriormente — reencontrou o amigo Jesús Rafael Soto, com quem compartilhava o apreço pela arte, tendo sido impactado pela produção cinética do artista, que era até então inédita para ele. Ademais, ambos se interessavam pela música, ao dedilharem acordes no violão por horas a fio. Ao percorrerem a cena parisiense, visitaram a marcante exposição “Le Mouvement” na Galerie Denise René. Esse período biográfico é memorável haja vista ter sido quando percebeu que sua jornada experimental era sincrônica a de outros artistas.

Tantos artistas dedicaram-se a refletir sobre a cor, perpassando séculos, Cézanne entendia a luz como irreproduzível, e que somente poderia ser representada pelas cores. Para Léger, elas eram uma necessidade vital, como água e fogo. Albers entendia que uma cor quase nunca era vista como fisicamente era, o que a tornava o meio mais relativo na arte. O interesse circundou também investigações teóricas de Aristóteles a Descartes, de Newton a Goethe, confirmando a mutável natureza cromática.

Profundamente influenciado pela teoria goetheana, Cruz-Diez dedicou-se a elucidação dos fenômenos ópticos e pesquisou o acontecimento cromático em todas as suas possíveis articulações. Encontrou sua solução para o eterno binômio cor-forma: o caminho foi quebrar a forma. Método experimentativo que o fez deparar-se com uma verdade que iria perdurar por décadas em sua poética, a de que a cor está constantemente em formação e ocorrendo no tempo.

No campo do cinetismo a cor é uma ação em variabilidade, um efeito de persistência da visão que cria e modula realidades autônomas. As Physicromies revelam efeitos das condições inerentes às cores, uma rede em interação e afetação mútua, tornando-se uma armadilha luminosa. A malha cromática sutil é constantemente renovada, proporcionando nuances e gradações em uma trama de permutações entre os planos fragmentados.

Nós, enquanto observadores, tornamo-nos ativadores desses acontecimentos, os trabalhos se desenrolam a partir de um encontro das variações luminosas, da posição e do ângulo da visão dos sujeitos, de modo que cada um pode percepcionar a obra a partir do seu ponto de vista. Uma conjunção entre a instabilidade da percepção do ângulo e a radiação provocada pela cor criam um mecanismo de comunicação observador/obra, o que Cruz-Diez estimava, um encontro de afeto que culmina a experiência estética. Esse modo singular de produção atrai e encanta o olhar, atinge a persistência retiniana em um processo de formação de imagens tal como um taumatrópio o fez no século XIX.

A cor se torna um happening que se desenrola no espaço, como se assimila na instalação “Laberinto de Transcromía”, em que camadas vão sendo desveladas e matizes modulam um diálogo entre o tempo e o espaço. O labirinto ativa a consciência de cor no público, expandindo a existência física e material cromática, independente de convenções culturais. Nos conclama a despertar outros mecanismos de captação sensível mais sutil do que estamos acostumados ao nosso olhar condicionado pelo cotidiano.

As celebrações de seu centenário rememoram a trajetória e contribuição singular de Carlos Cruz-Diez ao campo artístico contemporâneo, o enlevo ocasionado a cada vez que ocupa um espaço expositivo, e como a cada montagem aventa novas perspectivas e apreensões nos sujeitos atravessados por sua pesquisa.

Certeiramente afirmou que “em certas circunstâncias, o artista cumpre uma certa função profética, adiantando-se ao seu tempo - em várias gerações - e incorporando variáveis que, até então, ninguém tinha sonhado serem possíveis”. Carlos Cruz-Diez em sua potência profética revelou de maneira poética as paixões da luz, em como são os efeitos cromáticos sobre a retina humana, delineando a natureza mutável das cores ao conceber eventos modulares em paredes, cinemas, ruas, fachadas, museus e galerias.

O venezuelano alumiou o século passado com sua produção singular e inconteste, que notadamente se prolonga no século XXI, provocando interpretações ao revisitarmos e apreciarmos seu legado cinético.

 

Mariane Beline

Color Aditivo, Serie Círculos Verticales 1, 2010

cromografia sobre alumínio

240 x 60 cm

Color Aditivo Panam 8, 2010

cromografia sobre alumínio

60 x 80 cm

Physichromie Panam 247, 2015

cromografia sobre alumínio

180 x 360 cm

Physichromie Panam 214, 2015

cromografia sobre alumínio

100 x 100 cm

Physichromie Panam 87, 2012

cromografia sobre alumínio

50 x 50 cm

Cromointerferencia Espacial 43, 1964-2016

cromografia sobre alumínio e cinta elástica

90 x 180 cm

Physichromie Panam N6, 2010

cromografia sobre alumínio

100 x 150 cm

Physichromie Panam 265, 2017

cromografia sobre alumínio

50 x 50 cm

Physichromie Panam 90, 2012

cromografia sobre alumínio

50 x 50 cm

Physichromie Nº 338, 1967

papelão pintado com placa em pvc

60 x 60 cm

Laberinto de Transcromía Rachel, 2017

lâminas de pvc impressas

240 x 365 x 635 cm

X
ID: 20
Color Aditivo, Serie Círculos Verticales 1, 2010
cromografia sobre alumínio
240 x 60 cm

ed. 1/8

 






X
ID: 21
Color Aditivo Panam 8, 2010
cromografia sobre alumínio
60 x 80 cm

 ed. 3/8






X
ID: 22
Physichromie Panam 247, 2015
cromografia sobre alumínio
180 x 360 cm





X
ID: 23
Physichromie Panam 214, 2015
cromografia sobre alumínio
100 x 100 cm





X
ID: 24
Physichromie Panam 87, 2012
cromografia sobre alumínio
50 x 50 cm

ed. 7/8






X
ID: 25
Cromointerferencia Espacial 43, 1964-2016
cromografia sobre alumínio e cinta elástica
90 x 180 cm





X
ID: 26
Physichromie Panam N6, 2010
cromografia sobre alumínio
100 x 150 cm





X
ID: 27
Physichromie Panam 265, 2017
cromografia sobre alumínio
50 x 50 cm

ed. 7/8

 






X
ID: 28
Physichromie Panam 90, 2012
cromografia sobre alumínio
50 x 50 cm

ed. 1/8

 






X
ID: 29
Physichromie Nº 338, 1967
papelão pintado com placa em pvc
60 x 60 cm





X
ID: 30
Laberinto de Transcromía Rachel, 2017
lâminas de pvc impressas
240 x 365 x 635 cm

ed. 1/3

 






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