ELOGIO AO ELEMENTAR
Interesse é uma palavra latina que tem dois radicais: Inter (quer dizer entre) e Essere (estar). Portanto, uma coisa é interessante quando ela ESTIVER ENTRE.
Esta é justamente uma das muitas estratégias que este verdadeiro artista, Juan Parada, adota ao fazer suas esculturas dialogarem profundamente com as leis do universo, da física, da matemática e da biologia, assim como com a história do aparecimento da imagem: trata-se de um artista profundamente erudito que deseja imensamente falar com todos e o faz com maestria, sutileza e apurado conhecimento do material usado.
A obra Estranhos Atratores II nos traz já em seu título um lindo conceito matemático que, expresso de modo simplificado, descreve a flutuação permanente de um corpo entre vários estados, de um modo que esse movimento não seja aleatório, fixo nem oscilante, mas sim contínuo e caótico: física em estado de poesia plástica pura.
Para início de conversa, Juan escolhe como uma das principais matérias de seus trabalhos a cerâmica, um material extremamente “elástico”, um coringa na verdade. Pois, ao olhá-la, temos a impressão de se tratar de outro material, tal como plástico, pedra, madeira ou até mesmo metal. Esta ideia de não se reconhecer imediatamente o que se vê é uma outra importante estratégia que o artista utiliza: o tempo de entrega do observador frente ao trabalho, que não se deixa apreender nem compreender de imediato, é a maneira que ele encontra de nos fazer viver com mais indagações, mais incertezas, caminho este que Juan acredita ser o mais eficaz e direto para fazermos um exercício experimental de liberdade, este sim o maior valor a que o homem pode aspirar em vida, segundo Baudelaire.
Em Dark Star, peça de 2,6 m de diâmetro, suspensa no alto por cabos de aço, cuja parte externa é feita de alumínio e a interna de cerâmica e pigmento preto, o artista nos mostra o quão vasta é a sua experiência no trato da cerâmica ao conseguir manter um padrão, uma ordem no caos que é o processo de solidificação deste material. Ao entrarmos na peça, é impossível não imaginar o universo com suas constelações. Trata-se de uma bela peça a que confluem o desenho, a pintura e a escultura, compondo o indicativo de uma poderosa poética visual.
Temos por fim o trabalho Elogio à água I, que num primeiro momento achamos ser um desenho, para depois num segundo momento acharmos ser uma pintura e acabamos por perceber que se trata de uma escultura em cimento. Ela foi feita a partir de um molde de gesso colocado sobre a areia numa região onde o rio encontra o mar, na ilha de Superagui, uma reserva ecológica onde o artista colheu seu material. A superfície da obra mostra várias pequenas ondulações, criando uma associação com o rastro que a passagem da água deixa numa superfície qualquer da terra e nos fazendo lembrar que a atenção às forças básicas da natureza, que o olhar ao elementar é talvez a maior e mais sofisticada estratégia do artista.
Fabio Faisal