A paisagem fragmentada de Isidro Blasco

 

Paisagem – eis no que se transforma a cidade para o flâneur

BENJAMIN, Walter. Charles Baudelaire: Um lírico no auge do capitalismo

 

Um passante desliza por entre as ruas da cidade, uma placa chama sua atenção, em seguida uma esquina e então a fachada de um prédio. O observador levanta seu olhar para acompanhar as linhas em perspectiva que logo se deformam, aceleram. Por fim, a atenção dispersa do sujeito moderno tenta organizar a experiência fragmentada dos diversos estímulos da metrópole, através de um exercício de reconstruir uma certa continuidade irregular. Esse procedimento de composição de paisagens a partir de fragmentos, é uma das características que define a prática de Isidro Blasco.

Essa operação de síntese busca aproximar, mesmo que à custa de uma incongruência, partes de uma mesma paisagem, captadas por diferentes pontos de vista. O choque, a fragmentação da percepção e a intensificação dos estímulos, são atributos da cidade moderna e parecem ser balizas para a poética do artista híspano-americano. A escolha desses temas por parte de Blasco deve indicar que as questões postas pela modernidade não foram totalmente solucionadas e nem superadas. De alguma maneira, as características desse sujeito moderno permanecem, potencializadas pela tecnologia, na contemporaneidade.

O que pode ser lido como um processo dialético e contínuo de construção e desconstrução dentro do seu corpo de trabalho, pode ser compreendido também como a reordenação de uma experiência que é, em si, fragmentada e não ordenada. Criando proto-arquiteturas para o suporte dessas fotografias, o artista insere imagens de construções no espaço. Formalmente, as obras tendem a pensar a própria estrutura daquilo que estão retratando. Talvez os exemplos mais claros sejam a composição ondular que procura acompanhar as curvas do Edifício Copan, em São Paulo; e os arcos da base da Torre Eiffel em Paris 2 (ambos de 2018). Esses dois exemplos também evidenciam o apreço do fotógrafo pelos edifícios icônicos, cartões-postais das cidades. O artista utiliza-se dessa estratégia para capturar, de maneira mais facilmente reconhecível, a paisagem específica das metrópoles que passa pelo mundo.

Em alguns momentos, sua abordagem da cidade difere, portanto, daquela do flâneur. Ao invés de se perder aleatoriamente no fluxo urbano, Isidro Blasco busca apresentar pontos específicos e reconhecíveis da cidade, que marcam o fluxo do olhar com um ponto familiar. A ordenação espacial dessas composições, ainda assim, não segue uma ortogonalidade. O que poderia se aproximar de um “fluxo de atenção dispersa” do flâneur é evocado pela maneira como o olhar percorre, sem um caminho pré-estabelecido, os arabescos da forma. Não existe lugar para começar e nem para terminar. Buschwick 2 (2018) é um caso exemplar dessa composição, que a todo momento faz com que o olhar vá até as bordas e logo seja reconduzido para o interior, que torna a encaminhar para seus limites com uma fluidez contínua. De outro modo, se o observador dessas imagens identifica arquiteturas marcantes em seu repertório, que se destaquem do conjunto, o olhar passa a ser organizado a partir disso, ou pelo menos, acaba por se tornar um ponto gravitacional dentro da obra.

Através da construção efetiva dessas estruturas de suporte das imagens, tais objetos esgarçam os limites entre o que seria do campo fotográfico e do escultórico; em última instância, daquilo que se apresenta enquanto imagem (bidimensional) e o corpo que a sustenta. Essa ambiguidade da imagem no espaço cria, por vezes, pontos privilegiados de observação, fazendo com que a obra adquira uma certa continuidade visual; mas uma vez que o observador se desloca, a imagem se desfaz novamente numa série de retalhos. Esse ponto central privilegiado ainda funciona através de um sujeito organizador do espaço, que projeta uma perspectiva a partir de um ponto especifico. As imagens, no entanto, compreendem diversas perspectivas dentro de sua composição, são amálgamas de pontos de vistas distintos para uma mesma cidade. Esses conflitos devem tornar explícitas as contradições e diferenças que uma metrópole comporta. O aparato fotográfico – que é um desenvolvimento da construção da perspectiva linear – estabelece um tipo de organização espacial a cada clique. Dessa maneira, um mesmo sujeito que aponta a caixa preta para ângulos diferentes, é capaz de apresentar perspectivas do mundo distintas.

Mediante a múltipla exposição em sequência de um dispositivo pré-cinematográfico, é possível produzir mecanicamente um continuum de tempo e espaço. Isidro Blasco utiliza-se desse recurso para tentar estabelecer uma certa paisagem urbana formada pela conjunção de diversas perspectivas distintas e “contraditórias”. Portanto, o artista elabora uma série de questões que atravessaram a modernidade em sua relação com as metrópoles: os estímulos de atenção do olhar, a fragmentação da percepção e a pluralidade de pontos de vista, cujo respeito às diferenças ainda permanece sendo um dos maiores desafios da contemporaneidade.

 

Ilê Sartuzi

Rolling Houses, 2018

Impressão preto e branca, madeira, pastpatour

183 x 157.5 x 22.8 cm

Bushwick 1, 2018

Impressão preto e branca, madeira, pastpatour

60 x 76 x 7 cm

Bushwick 2, 2018

Impressão preto e branca, madeira, pastpatour

55 x 71 x 7 cm

Paris 1, 2018

Impressão preto e branca, madeira, pastpatour

66 x 49 x 10 cm

Paris 2, 2018

Impressão colorida, madeira, pastpatour

102 x 76 x 26 cm

Guggenheim, 2018

Impressão preto e branca, madeira, pastpatour

101 x 76 x 15 cm

Flat Iron 1, 2018

Impressão preto e branca, madeira, pastpatour

68 x 45 x 12 cm

Flat Iron 2, 2018

Impressão preto e branca, madeira, pastpatour

68 x 45 x 12 cm

São Paulo, 2018

Impressão preto e branca, madeira, pastpatour

76 x 48 x 13 cm

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