Na produção dos artistas paranaenses que atuaram ao longo da primeira metade do século XX, se destaca uma recorrente predileção pelo tema da paisagem, majoritariamente elaborada a partir da observação do ambiente natural do estado. São exemplos célebres pintores como Alfredo Andersen, Theodoro de Bona, Guido Viaro, Miguel Bakun, entre outros.
A partir da década de 1950, o eixo Rio–São Paulo torna-se o epicentro de uma intensa efervescência artística, marcada por importantes marcos institucionais, como a criação dos Museus de Arte Moderna, a Bienal de São Paulo e a inauguração de diversas galerias de arte. Nesse mesmo momento, o Paraná também vivencia um movimento significativo de renovação em seu cenário artístico, acompanhando, à sua maneira, as transformações que redefiniram o panorama das artes no país.
A crítica de arte Adalice Araújo observa que “embora a dominante da plástica paranaense da década de 50 tenha sido o expressionismo, enquanto que o abstracionismo predominou nos anos 60, hoje esses artistas seguem as mais variadas tendências¹”. Mario Rubinski, contudo, não se filiou a estilos ou movimentos. Desde o início, elegeu e tratou a paisagem com uma certeza capaz de fazer ultrapassar até mesmo a própria categorização de “paisagista”. Seus desenhos e pinturas, afinal, não buscavam refletir ou traduzir o meio-ambiente, mas tomá-lo como um índice para composições mentais, esquemáticas e bidimensionais que o artista perseguiu por toda a vida.
Ao longo de sua trajetória, Rubinski desenvolveu uma notável consciência construtiva, elaborando cenários dinâmicos a partir de formas elementares. É por meio da disposição das casas e construções minimalistas que o artista sugere um mundo em que a natureza é compartilhada: não pela presença direta do homem, mas pelas formas arquitetônicas que evocam abrigo e proteção. Suas composições, mesmo desprovidas de jogos de luz ou figuração de sombras, são capazes de produzir efeitos de profundidade e movimento apenas pela disposição orgânica dos elementos na cena. Rubinski, assim como Alfredo Volpi e Eleonore Koch, pintores contemporâneos a ele, apostou em uma pincelada ritmada, compositiva, que em seu caso repetia-se tanto nas figuras quanto no fundo, colaborando para a impressão de harmonia total entre os elementos.
Embora o uso de formas geométricas e a obsessão do artista por linhas e planos remetam a uma de suas formações (além de ter estudado pintura na Escola de Belas Artes do Paraná, lecionou por anos Desenho Geométrico em escolas de ensino médio), seu trabalho não se orienta pela busca da exatidão matemática, tampouco pela aplicação analítica da geometria.
O crítico de arte Aurélio Benitez destaca que “a principal característica da arte dos pintores da década de 60 é que nela começa a aparecer o comportamento psicológico e emocional dos paranaenses²”. Em retrospecto, o conjunto da obra de Rubinski revela justamente um artista que construiu sua trajetória em torno da introspecção, resultando em uma pintura de atmosfera metafísica que reflete traços de sua própria personalidade.
Essa quietude, somada às fronteiras regionais, pode ter contribuído para que o trabalho de Rubinski encontrasse maior ressonância na Região Sul, afastando-o de possíveis aproximações com artistas que desenvolveram investigações formais semelhantes, como Arnaldo Ferrari, Ione Saldanha ou Marga Ledora. Uma leitura renovada de sua obra, atenta aos diálogos e singularidades de sua trajetória, permite não apenas reposicionar Rubinski, mas também reconhecer nele uma consistente vertente da modernidade no Sul do país, que compreende a paisagem não como mera representação, mas como uma estrutura delicada e sensível do mundo.
Thierry Freitas
¹ Trecho do texto de Adalice Araújo, publicado no catálogo A arte de Mario Rubinski, Curitiba: Solar do Rosário, 2007. Pg. 11
² Trecho do texto de Aurélio Benitez publicado no catálogo A arte de Mario Rubinski, Curitiba: Solar do Rosário, 2007. Pg. 12.