Mestre Didi, emergência mítica – olhar universal

 

Didi é um sacerdote-artista.

Expressa, através de criações estéticas, arraigada intimidade com seu universo existencial onde ancestralidade e visão de mundo africanas se fundem com sua experiência de vida baiana. Tradição e contemporaneidade, civilizações replantadas e recriadas. “Evoluir sem perder a essência”, nas suas próprias palavras. Completamente integrado com o universo nagô de origem iorubana, revela em sua obra sua inspiração mítica, formal, material. A linguagem nagô com a qual se expressa é um discurso sobre a experiência do sagrado.

Mestre Didi absorveu o significado das múltiplas relações do homem com seu meio ético, social e cósmico, assimilando esses valores e modos desde sua infância. Iniciado aos 8 anos de idade, conviveu com grandes mestres africanos e desenvolveu sua vida iniciática e gosto estético em bem-estruturadas comunidades nagôs.

Suas obras carregam a experiência, o hálito, a respiração dos mais antigos aos mais novos, de geração em geração. Condensando sua história pessoal e sua capacidade de transcender.

Didi veicula intencionalmente, para além de sua própria vida, a energia mítica de sua trajetória iniciática, inscrevendo-se na vertente mitológica das artes, projetando uma energia poética de caráter universal.

Esse aspecto de incorporar iniciaticamente, de transcender gerações e de expandi-las é fundamental para a compreensão da capacidade de retextualização dinâmica de seu fazer estético afro-brasileiro.

Suas obras têm o poder de tornar presente a linguagem abstrato-conceitual e emocional elaborada desde as origens pelos seus antecessores. Elas têm o poder de tornar presente os fatos passados, de restaurar e renovar a vida. Através de suas atividades e obras, Didi contribui para reconduzir e recriar todo o sistema cognitivo emocional comunitário, em relação tanto ao cosmos quanto à realidade humana.

Suas obras se inscrevem na vertente mitológica das artes, projetam uma energia poética de caráter universal. Extrapolam o tempo. Didi redimensiona sua existência de homem indivíduo inserindo-se na corrente da ancestralidade, nos constantes renascimentos perpetuados e cultuados no Panteão da Terra, lama genitora, terra molhada, fecundada.

Didi, o Assogba, sumo sacerdote do Panteon da Terra, executa objetos rituais desde sua infância e adolescência. O discurso manifesto de suas obras, constituído de formas, cores e matérias, transporta, latente, o eidos – o conhecimento vivido, a emoção, a afetividade, as elaborações profundas passadas e presentes, o conjunto de teofanias evocadas, restituindo e renovando criativamente os princípios e a linguagem de sua tradição.

Em um movimento de recriação simbólica, Didi transporta materiais e técnicas tradicionais para uma arte contemporânea, traduzindo um conhecimento mítico e universal do qual é herdeiro. Por isso seu trabalho é autêntico no sentido emocional, moral e visual, proporcionando uma profunda coerência formal a suas criações. O trabalho de Didi é tradicional e novo.

Discorrer sobre Didi e sua criatividade estética implica discorrer sobre a arte afro-brasileira, implica abrir um leque epistemológico sobre a tradição, o religare, a visão de mundo da qual ele emerge e faz parte indissoluvelmente. Sua trajetória e criação estética emergem e recompõem, na continuidade e na descontinuidade do Brasil, o conhecimento, o pensamento e as subjacências emocionais dos princípios inaugurais reelaborados desde épocas remotas; antes de serem formas de arte, são criações que se encarregam de significar as múltiplas relações do homem com seu meio cósmico, social e ético. O conjunto de atividades e produções de Mestre Didi contribuem para expressar e transmitir o conhecimento universal cósmico, teológico e tecnológico dos afro-brasileiros.

Discorrer sobre sua obra diz respeito não apenas ao sacerdote-artista Didi, mas implica visibilizar e discorrer sobre a cultura afro-brasileira que se manifesta e magnifica através de sua criatividade; significa abrir um leque de conhecimentos sobre a tradição, o religare, a espiritualidade, a visão de mundo, a capacidade de um povo de expressar sua origem e seu enorme potencial de diálogo; diálogo que compõe e contribui para a complexa pluralidade cultural brasileira.

Conscientizar a trajetória de Mestre Didi, Deoscoredes Maximiliano dos Santos, intelectual, sacerdote, transmissor cultural, recriador lúcido de uma arte mítica de estética contemporânea, Doutor Honoris Causa, entre inúmeros títulos e condecorações. Um afro-brasileiro de olhar universal.

As manifestações estéticas magnificando o sagrado permeiam a tradição afro-brasileira. As criações de Deoscoredes Maximiliano dos Santos, emergentes desse universo, enriquecem e singularizam o patrimônio nacional.

 

Juana Elbein dos Santos

1992 – Texto originalmente publicado no catálogo da exposição “O Alapini-Escultor da Ancestralidade Afro-Brasileira" em 2013 no Museu Afro Brasil

Eran L´okun - O polvo com 4 tentáculos

tronco de palmeira, couro pintado, conchas e miçangas

114 x 65 x 65 cm

Opa Nilé - Cetro da terra, 1996

tronco de palmeira, couro pintado, conchas e miçangas

313 x 85 x 20 cm

Iwin Igbo - Espírito da floresta, 2009

tronco de palmeira, couro pintado, conchas e miçangas

175 x 35 x 40 cm

Eye Iyá Agba - Pássaro mãe ancestral, 2012

tronco de palmeira, couro pintado, conchas e miçangas

164 x 60 x 19 cm

Sem titulo

tronco de palmeira, couro pintado, búzios e contas

130 x 15 x 15 cm

Sem titulo

tronco de palmeira, couro pintado, búzios e contas

139 x 77 x 15 cm

Igi Osnyn Ati Omo Meta, Ejo Kan Ati Eye Kan - Árvore de Ossany, 2011

tronco de palmeira, couro pintado, conchas e miçangas

172 x 28 x 22 cm

Ope Awo Ibo - Palma misteriosa do mato, 2011

tronco de palmeira, couro pintado, conchas e miçangas

131 x 36 x 30 cm

Sapucaia, 2000

tronco de palmeira, couro pintado, conchas e miçangas

115 x 32 x 23 cm

Ejó Epé Mimo, 2009

tronco de palmeira, couro pintado, conchas e miçangas

105 x 39 x 21 cm

Sem título, 1966

tronco de palmeira, couro pintado, conchas e miçangas

64,5 x 45 x 8 cm

Sasará tradicional, 2003

tronco de palmeira, couro pintado, conchas e miçangas

57,5 x 10 x 10 cm

Sasará tradicional, 2003

tronco de palmeira, couro pintado, conchas e miçangas

60 x 9,5 x 9,5 cm

Catisal - Sasará Ati Ibiri Meta, 1968

tronco de palmeira, couro pintado, conchas e miçangas

62 x 19 x 12 cm

Catisal - Sasará Ati Ibiri Meta,1968

tronco de palmeira, couro pintado, conchas e miçangas

61 x 21 x 21 cm

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