A Simões de Assis explora a linha na SP-Arte de 2020, gesto que faz lastro e produz mancha. No caminhar da história da arte este fio é tensionado ao último, até chegar em seu rompimento. Porém, ainda deixa vestígio como na incisão na tela, por um recorte em fotografia ou a linha que penetra no algodão. Essa linha se solta em meio às especificidades dos meios, mas se faz presente e, assim, não é possível contar a história da arte sem mencioná-la.
A linha vibra em alguns momentos em volta da mancha pictórica, a quase se desfazer do traço, a tornando plástica, numa pulsação lírica imaginativa, como quando olhamos os trabalhos dos artistas Cícero Dias, Jorge Guinle ou nos grafismos de Niobe Xandó. Já em outros momentos a linha caminha com exatidão, mais racional, de modo técnico, geométrico e construtivo, como em Ascânio MMM. Porém, esta técnica em algumas ocasiões envereda a um pulso nas formas naturais libertas em desordem[1], como nas reconfigurações em Antônio Dias. Ao mesmo tempo, o gesto rememora cenas e construções canônicas pictóricas através do óleo, como nas paisagens em Miguel Bakun ou Alberto da Veiga Guignard. Estas questões adentram a arte, principalmente no século XX, com as vanguardas. Os modernos afrouxam e iniciam o rompimento entre as fronteiras das linguagens artísticas. Os contemporâneos diluem de vez os limites entres as técnicas, a ponto de ser impossível enquadrá-los num sistema linear, ou no binarismo, como nos trabalhos de André Azevedo e Julia Kater.
Assim, nestas construções e complexidades da linha, propor ao público um diálogo entre gerações, de forma atemporal e de vestígios. Deste modo, justapõe linguagens, pictóricas e técnicas a partir de um debate que mostra as confluências processuais.
[1] Schiller, Friedrich. Do sublime.
Mais infos: https://www.sp-arte.com/viewing-room/projetos/a-linha-como-gesto-62/