Gonçalo Ivo
Sintaxe da Cor
“A cor me possui. Não preciso ir atrás dela. Ela me possui para sempre, eu sei.
E esse significado dessa hora feliz a cor e eu somos um. Sou pintor”.
Paul Klee, 1914. Diário do Norte da África.
A longeva trajetória de Gonçalo Ivo é construída não pela repetição, mas pela regeneração de suas aproximações a cada assunto. Como na lógica de múltiplos caminhos espirituais, é razoável compreender a ideia de que a evolução se dá pelo constante retorno ao mesmo objeto, ao mesmo mantra, ao mesmo texto, que se tornam mais e mais nítidos a cada vez que nos voltamos a ele.
A ideia de nitidez não se coloca na obra de Ivo pela depuração das formas exatas. Ao revés, o artista colhe geometrias imprecisas, operando por decantação da forma e da potência da cor. Trabalhando desde a transparência à opacidade absoluta, Ivo lança mão de um sistema pendular para expressar a cor. A cor, em Ivo, não pertence à classe adjetiva, mas sim substantiva. Ela é sujeito ativo da oração. Nas palavras do artista: "A cor me faz pensar plasticamente. Estou mais ligado a uma ação cromática do que à estrutura formal. [...] Para fazer pintura é necessário pular o muro dos sonhos - sair para outros serenos".
Aqui reunidos, paisagens, rios e tecidos de origem africana são percebidos em sua linearidade e na criação de padrões que cortam horizontalmente o papel ou a tela. Sob o horizonte de seu vasto repertório e vivências, o artista trabalha a sintaxe de sua obra como a construção de linguagem ligada ao desejo pelo que se conhece e pelo que não se conhece.
Maria Beatrice Trujillo
06/05/2020 até 29/05/2020