Jornalista, fotógrafo e curador do Clube de Colecionadores de Fotografía do MAM (Museu de Arte Moderna) de São Paulo, Chiodetto é Mestre em Comunicação pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo. Ele explica a escolha do título: “‘Inventário da Pele’ investiga o legado da fotografia, os avanços técnicos e conceituais dessa linguagem que ocorre em sobressaltos, recuos e retomadas numa história que se desenvolve de forma elíptica. A pele é a metáfora da superfície, da película, da derme da fotografia que os artistas nessa mostra reelaboram e recriam de acordo com suas necessidades para alcançar determinadas atmosferas nas suas representações".
SUPERANDO O SUPORTE
Ainda que ligados pelo estudo técnico da plataforma fotográfica, o time de artistas selecionados por Chiodetto não assume uma postura coletiva diante da temática abordada em seus trabalhos. Pelo contrário, como afirma o curador, “esse vai e vem na história da fotografia tenciona de tal forma os trabalhos que eles se tornam um campo fértil para a narrativa de subjetividade e pontos de vista particulares – e, necessariamente, oníricos”.
Deste modo, é possível acompanhar a mostra em um trajeto que contraria a evolução cronológica da fotografia e seus suportes. Na visão de Chiodetto, essa evolução assume um trajeto em espirais, “onde o passado apresenta seus atributos e os artistas os revestem de questões contemporâneas, para então criar um novo campo de reflexão e avanço”. Seja nas estratégias de corte e colagem de Cássio Vasconcellos e Julia Kater; nas séries de daguerreótipos de Cris Bierrenbach; ou nas ampliações artesanais feitas por Kenji Ota.
Considerando a rápida expansão que a fotografia assumiu na última década, a mostra aborda também trabalhos imbricados com outras linguagens, como nas obras de Tony Camargo e Romy Pocztaruk, que se situam em “zonas de intermédio” com a pintura e o vídeo, respectivamente.
A obra de Rosângela Renno, impressa em chapas de inox, mostra pessoas segurando retratos de parentes desaparecidos. Conteúdo e forma se unem para criar um verdadeiro “campo de batalha das representações", como define Chiodetto.
Cristiano Lenhardt, com uma série de dobraduras feitas com papel fotográfico expostos à luz e Leticia Ranzani, com delicadíssimas paisagens impressas em saquinhos de chá usados, completam o grupo de artistas da mostra.
Tais estratégias artísticas que revigoram e ampliam a potência do suporte fotográfico, não foge ao caráter inovador empregado pela galeria em suas mostras. Ao optar por seguir nele, o espaço demonstra mais uma vez seu compromisso com uma arte renovada, sua proposta inicial. Nas palavras do curador Chiodetto, “estes artistas selecionados para a SIM revigoram a linguagem, injetando nela novos desdobramentos simbólicos, ironizam a ideia de um real dominante e entronizam a dialética, a poética, o vacilo, o instável”.