Mais um dia, mais uma vez, pinturas de Yasmin Guimarães
“Every art is a window into a world that only that art can access. You can’t define these worlds. They are epiphanies, visions.”
(Etel Adnan)
Há exato um mês ao entrar no ateliê de Yasmin, oque de primeiro me impressionou foi o grande número de trabalhos. Paredes, prateleiras e piso cheios de paisagens delicadas, uma espécie de ambiente mágico com realidades enevoadas se sobrepondo. A artista mantém há alguns anos uma atividade intensa, experimentando continuamente com abstração e representação. Mas oque parece interessá-la particularmente nesse conjunto de pinturas recentes apresentadas aqui é uma investigação de escala e proporção da representação de suas paisagens.
Montanhas com vegetação rasteira; paisagens enevoadas; uma chuva, um céu estrelado?; um horizonte com árvore e nuvens rarefeitas, todos aparecem como que através de janelas maiores ou menores nas quais enxergamos mais longe ou mais perto. São telas de dimensões variadas, contemplativas elas convidam a experiência libertadora de encontrar-se em espaços amplos. Por vezes, o uso de cores quentes - alaranjado, amarelo e vermelho – e por vezes pelo movimento das formas, convidam a uma aproximação mais demorada e dinâmica.
A produção para Yasmin é imaginar, desenhar e pintar, imaginar de novo, pintar mais uma vez e pintar de novo. O resultado desdobra diferentes versões de uma mesma imagem ou variações de uma mesma composição até que se esgote para ela o assunto. Como acontece na sequência de montanhas com mãos (Sem Título, 2019). O processo de fazer pintura passa então pelo desenho, intuitivo ele é como um esquema simples que serve de referência para a composição e a partir dali para o plano da tela já montada no chassi. Aqui em “Minutos antes de acordar”, assim como em trabalhos anteriores, a artista se concentrou em pintar aquilo que não se vê. Antes pintar o vento, agora ela se inspira das imagens fluidas da memória dos sonhos.
Apesar de predominantemente gestual, a pintura de Yasmin lida com o espaço delimitado da tela como um elemento da composição. Ela por vezes marca os limites do chassi com uma linha colorida (Sem Título, 2020) e outras pinta os lados do quadro, assinalando esse espaço. Como uma busca pela realidade concreta que é sugerida no espaço da pintura, mas afirmada na concretude do objeto-quadro.
O uso da tela crua, aparece frequentemente no trabalho de Yasmin e aqui ele faz as vezes de uma cor a mais ou ainda de espaço vazio, de atmosfera ou infinito como podemos observar em É de, 2020 ou Sem Título, 2020. Essa estratégia nos lembra mais uma vez que aqui a pintura trata de representação das coisas do mundo como as vemos e como as imaginamos e não do que elas poderiam simbolizar.
Uma montanha é sempre uma montanha.
Camila Bechelany
Barcelona, 04/03/2020