OUTSIDE THE WIREFRAME
Frank Ammerlaan é um proeminente artista plástico nascido na Holanda e residente da cidade de Londres cujas exposições individuais e coletivas têm sido exibidas nos últimos seis anos em prestigiados museus e galerias pela Europa em cidades como Copenhague, Bruxelas, Berlin e Londres bem como em Nova York e outras grandes capitais internacionais.
Nos trabalhos de Ammerlaan, a essência do múltiplo é manifesta na contínua coexistência de suportes, materiais e processos mistos, como escultura, pintura, fotografia e vídeo juntamente de elementos sintéticos e naturais como tinta óleo, linhas de costura, metais e agentes químicos.
Na exposição Outside the wireframe, produzida durantes sua residência artística recente no espaço experimental de arte PIVÔ, na cidade de São Paulo, o interesse permanente no que é periférico, indistinguível e despercebido é amplamente contemplado.
As caminhadas diárias de Ammerlaan na ida e volta de seu ateliê temporário, localizado no centro de São Paulo, se tornaram uma profunda jornada para dentro e fora do motor da cidade movido à ansiedade e instabilidade. Ao fazer uso de objetos ready-made como latinhas de alumínio, vidro e banner de PVC, em Outside the wireframe o artista convoca uma série de elementos tanto familiares como também invisíveis à capital brasileira. Um conjunto de ícones que perpassa os catadores de latinhas das quais algumas esculturas são feitas e que nos fala sobre inventivos subsistemas criados sob circunstâncias econômicas difíceis. Como também que inclui um banner de serralheria em que o artista aponta evidências de extrema ansiedade geral quanto à segurança. E até mesmo que destaca do cenário urbano cotidiano, tampas de bueiro e piche como indicação de um ambiente publicitário alternativo. E até mesmo piche e tampas de bueiros que nos separam de um mundo sob nossos pés.
A série Untitled de imagens impressas em vidro aramado de alta segurança exibe um material nunca antes usado em exposições do artista, de acordo com ele “Trabalhar em um novo contexto como a residência desperta novas idéias, te faz, por exemplo, pensar de forma diferente sobre os materiais”. Permeada por ambigüidades, a série é feita de um material transparente de alta segurança que busca oferecer segurança enquanto não necessariamente esconde algo. Ela inclui imagens desenhadas por linhas de armações de arame que lhes concedem certo aspecto de pop arte, mas ao mesmo tempo uma aparência anônima, uma vez que nos permite enxergar formas, mas não superfícies. Além disso, um objeto poderoso ainda que pequeno, a bandeira de mesa, que não mostra nenhum emblema ou insígnia pode ainda assim simbolizar uma idéia de proteção e defesa de um determinado território ou cultura. Sobre a figura tridimensional humana, seu aspecto fantasmagórico é justaposto com uma imagem impressionantemente detalhada.
A antítese da abordagem emocional e racional está profusamente presente nas pinturas do artista na quais aspectos atmosféricos e nebulosos se contrastam com padrões geométricos precisos feitos de linhas de costura e bordado. Possivelmente sob a influência de seu treinamento primeiro, em marcenaria, assim como devido a pratica constante de desenhos técnicos, nos trabalhos de Ammerlaan linhas são de alguma forma, privilegiadas em detrimento de volume.
Em algumas das pinturas de Outside the wireframe os conceitos binários característicos dos trabalhos de Ammerlaan podem ser apresentados mais sutilmente do que em outras. Ao observar uma pintura a partir de certa distância da tela, seus aspectos atmosféricos e nebulosos se destacam, porém, uma vez que os padrões em baixo relevo começam a ser reconhecidos, a pintura simultaneamente exige ser observada mais de perto. Padrões e linhas, assim, são formas de racionalizar e se apropriar do conceito de periférico com efetividade. Simultaneamente a qualidade etérea das pinturas contribui para um engendramento mais amplo das idéias e objetos do periférico.
Outside the wireframe revela que o imperceptível, o periférico e o sutil podem ser encontrados em situações e cenários que transcendem efeitos óticos provocados por uma obra de arte. Aponta claramente que o invisível existe, por exemplo, na rotina cotidiana dos habitantes de metrópoles como São Paulo. Ao utilizar-se de piche e ao delinear tampas de bueiros encontradas nas ruas que circundam seu ateliê na cidade, Ammerlaan realça padrões gravados em tais peças de metal- alguns deles padrões de linhas cruzadas e atravessadas também comuns a outros trabalhos do artista-, feitos, por exemplo, por empresas de telecomunicação para fins publicitários. Geralmente despercebidos, tais padrões e nomes de marcas atuam como indícios de uma atividade publicitária quase imperceptível acontecendo sob nossos pés. Um fato ainda mais interessante diante da controversa proibição de publicidade exterior que busca minimizar a poluição visual da cidade implantada na última década em São Paulo.
A exposição Outside the wireframe é uma oportunidade única para todos familiarizados ao ambiente urbano de observar uma complexa cidade como São Paulo, em suas múltiplas possibilidades periféricas, através dos cantos dos olhos argutos e precisos do artista contemporâneo Frank Ammerlaan.