Ione Saldanha
Ione Saldanha (Alegrete, 1919 - Rio de Janeiro, 2001), pintora e escultora nascida no Rio Grande do Sul. Com quase seis décadas de produção, sua obra foi marcada por rigor e coerência, cada série de trabalho desdobra-se rumo à próxima – partindo das pinturas figurativas iniciais dos anos 1940 aos trabalhos abstratos dos anos 1950, chegando às pinturas em suportes tridimensionais a partir do final dos anos 1960. A verticalidade foi constante em sua produção, como notaram diversos críticos. Ione Saldanha promoveu uma síntese abstrata de elementos arquitetônicos e urbanísticos populares. No final da década de 1940 e início da década de 1950, pintou principalmente paisagens urbanas, mas no lugar da temporalidade veloz e do constante ruído das grandes cidades modernas, a artista optou por retratar as fachadas silenciosas dos centros históricos de Ouro Preto, Rio de Janeiro e Salvador, criando a imagem de um passado pré-moderno.
Suas obras nos permitem traçar um outro percurso para a história da abstração brasileira, que não se origina na Bienal de 1951, mas na observação da natureza e das culturas tradicionais. Há, portanto, um deslocamento do sentido hegemônico em que a geometria assume seu sentido mais puro, uma medida da terra – logo, uma medida da vida. Por fim, sua obra estendeu-se para o espaço. Ione Saldanha instaurou uma pintura em campo ampliado que, ao saltar para fora da tela, ganhou espaço real e autonomia. Nas palavras da artista, “eu quis sair do limite da parede. E quis sair fora, quase que como uma espécie de liberdade maior”. Na série “Bambus”, produziu esculturas antropomórficas que evocam a cultura brasileira popular e aprofundam sua pesquisa cromática. Na série “Ripas”, a artista desenvolveu um laboratório fragmentado e colorido em que tiras de madeira com tamanhos variados ficavam encostadas na parede, em relação que jogava com a arquitetura do espaço.
Participou de mais de dez edições da Bienal Internacional de São Paulo, além de outras exposições como o “Panorama de Arte Atual Brasileira” no MAM-SP (1969, 1970 e 1975); “10ª Quadriennale di Roma” (1977); “2ª Bienal de Arte Coltejer”, Medellín (1970); “Brasil/60 anos de arte moderna”, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa (1982); “Genealogias do contemporâneo”, MAM Rio (2010) e 60ª Bienal de Veneza (2024). Entre exposições individuais destacam-se “Bobinas”, MAM Rio (1971); “Ione Saldanha”, Instituto de Arquitetos do Brasil, Rio de Janeiro (1981); “Ione Saldanha”, Paço Imperial, Rio de Janeiro (1996); “Ione Saldanha: o tempo e a cor”, MAM Rio, MON – Museu Oscar Niemeyer, Fundação Iberê Camargo (2012) e “Ione Saldanha: a cidade inventada”, MASP – Museu de Arte de São Paulo (2021).
Possui trabalhos em importantes coleções particulares e museus, tais como: Coleção Gilberto Chateaubriand, Coleção João Sattamini, Coleção Adolpho Leirner, Museum of Fine Arts, Houston, MASP – Museu de Arte de São Paulo, MAC-USP - Museu de Arte Contemporânea de São Paulo e MAM-SP – Museu de Arte Moderna de São Paulo.
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