Mestre Didi
Deoscóredes Maximiliano dos Santos (Salvador, Bahia, 1917-2013), mais conhecido como Mestre Didi, foi um sacerdote-artista – termo amplamente empregado por Juana Elbein dos Santos, antropóloga que foi sua companheira e que extensamente escreveu sobre sua vida e obra. Filho de um grande alfaiate baiano, Arsênio dos Santos, e de Maria Bibiana do Espírito Santo, conhecida como "Mãe Senhora" por seu papel de Ialorixá no terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, Didi começou ainda na infância a executar objetos rituais associados ao Candomblé, mantendo essa prática ao longo de toda sua vida. Ao mesmo tempo, iniciou-se na religião ainda aos oito anos de idade, aprofundando-se no culto aos Egunguns (ou Ancestrais), parte essencial da cultura nagô de origem iorubana.
Foi a partir dessa combinação precoce de saberes que aprendeu a manipular com maestria os materiais simbólicos que compõem suas obras: nervuras e palhas de palmeiras, conchas, búzios, contas e miçangas, além de tiras de couro e tecido. Didi articulava esses elementos por meio das técnicas tradicionais que aprendera junto aos praticantes mais antigos do culto ao orixá Obaluaiê, ao qual também se dedicava pessoalmente. Contudo, empregava uma linguagem contemporânea que traduzia para o presente toda uma potente e profunda cosmogonia ancestral. Suas esculturas são manifestações fundamentais da ressignificação simbólica da espiritualidade na arte, sínteses de antigos saberes e expressões atuais de experiências do sagrado: resgatam mitologias por meio de novas estéticas, unem abstração e figuração, entrelaçam o sagrado e o profano, são alegóricas e literais, e vivificam uma religiosidade afro-brasileira que também pode ser universal. Seu trabalho, em suma, consubstancia as relações entre o homem e o sumo sacerdote do Panteão da Terra1 que detém o espírito íntimo das coisas.
Entre 1946 e 1989, Mestre Didi publicou livros sobre a cultura afro-brasileira, alguns deles ilustrados pelo artista Carybé. Em 1966, viajou para a África Ocidental para realizar pesquisas comparativas entre Brasil e África, contratado pela Unesco. Nas décadas de 1960 a 1990, participou como membro de institutos de estudos africanos e afro-brasileiros e, como conselheiro em congressos com a mesma temática, no Brasil e no exterior, promovendo amplamente a cultura afro-brasileira. Em 1980, fundou e presidiu a Sociedade Cultural e Religiosa Ilê Asipá do culto aos ancestrais Egun, em Salvador. Foi coordenador do Conselho Religioso do Instituto Nacional da Tradição e Cultura Afro-Brasileira, representando no país a Conferência Internacional da Tradição dos Orixás e Cultura.
Mestre Didi já realizou de importantes mostras individuais e coletivas em instituições como Pinacoteca do Estado de São Paulo, Museu Afro Brasil, Museu de Arte Moderna de São Paulo; Museu Oscar Niemeyer, Curitiba; Museu de Arte Moderna da Bahia, Salvador; Museu Histórico Nacional e Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, além de figurar na Bienal da Bahia e na 23ª Bienal de São Paulo. No exterior, expôs em Valência, Milão, Frankfurt, Londres, Paris, Acra, Dacar, Miami, Nova York e Washington. Seus trabalhos figuram em coleções de destaque, incluindo Museu de Arte Moderna da Bahia, Museu de Arte Moderna de São Paulo, e Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand.
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Ope Awo Ibo - Palma misteriosa do mato, 2011
tronco de palmeira, couro pintado, conchas e miçangas
131 x 36 x 30 cm
Eran L´okun - O polvo com 4 tentáculos, s/d
tronco de palmeira, couro pintado, conchas e miçangas
114 x 65 x 65 cm
Iyawo Sango: ose ati eye meji - sacerdotiza de xangô com duplo machado e pássaros, 2011
tronco de palmeira, couro pintado, búzios e contas
155 x 25 x 25 cm